“É possível chegar onde se quer”, afirma a primeira mulher eleita presidente do TJES
Postado 04/10/2025 19H51

Por Redação Ativa ES
Pela primeira vez em mais de um século, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) será presidido por uma mulher. A desembargadora Janete Vargas Simões, eleita por unanimidade, assumirá o comando do Poder Judiciário com a marca da experiência, do diálogo e da energia. Ele tem 35 anos de magistratura.
Natural de Barra de São Francisco, formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e mestre em Direito e Garantias Constitucionais, ao longo da carreira, a desembargadora Janete acumulou uma série de funções de liderança: foi presidente da Associação dos Magistrados do Espírito Santo (Amages), dirigiu a Escola da Magistratura, presidiu o Fórum Nacional dos Juizados Especiais (Fonaje), coordenou por uma década os Juizados Especiais e liderou o Núcleo de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec). Também esteve à frente da Comissão de Soluções Fundiárias do TJES e foi vice-presidente e corregedora-geral do Tribunal Regional Eleitoral.
Em entrevista exclusiva, a desembargadora Janete falou sobre a construção da candidatura, suas metas à frente do TJES e os desafios da carreira. Como mulher, na oportunidade também fala da maternidade, a importância da escuta e do diálogo, sobretudo, no Direito e no serviço público.
Como foi construída sua candidatura à presidência do Tribunal?
Janete Vargas Simões : Foi uma construção muito natural, fruto da minha própria trajetória. São 35 anos de magistratura em que sempre mantive um contato muito próximo com a sociedade. Eu nunca fui uma juíza de gabinete, daquelas que se fecham e se isolam. Passei por comarcas pequenas, como Mantenópolis, Ecoporanga, Pancas e Barra de São Francisco, e desde o início busquei participar da vida da comunidade. Naquela época, existiam os clubes de serviço, como Lions e Rotary, além da maçonaria e das escolas locais. Eu estava sempre presente, participava ativamente. Gostava de ouvir as pessoas, entender as demandas, construir soluções. Acho que esse perfil de atuação, muito presente e com energia para realizar, foi o que naturalmente me levou até aqui. Minha candidatura não foi algo planejado estrategicamente com antecedência, mas construída com base em uma caminhada constante, com projetos e envolvimento real com o Judiciário e a sociedade.
A senhora esperava ser eleita por unanimidade?
No fundo, a gente sempre alimenta essa esperança, porque é o reconhecimento dos colegas. Mas, quando o resultado saiu, confesso que fiquei emocionada. Foi uma bela surpresa. A unanimidade carrega um simbolismo muito forte. Representa confiança, respeito e também aumenta muito a responsabilidade. Eu recebo essa unanimidade com humildade e consciência do tamanho do desafio. Tenho clareza de que cada voto ali é também um compromisso com o diálogo, com a transparência e com uma gestão participativa. Isso me motiva ainda mais a entregar o melhor.
Houve algum descontentamento de outros desembargadores que tentaram se viabilizar para a presidência?
Não. Tivemos um processo muito respeitoso e transparente. É natural que, em uma eleição, haja mais de um nome interessado, mas conseguimos conduzir tudo com muito diálogo e cuidado para evitar ruídos. Somos apenas 30 desembargadores, e manter boas relações é essencial. Eu sempre prezei por isso. Conversamos com todos, apresentamos as ideias e construímos pontes. Essa harmonia foi fundamental para o resultado final.

Quais são as prioridades da sua gestão?
Minha primeira grande meta é avançar na agilidade dos julgamentos. Isso é essencial para garantir uma Justiça mais célere e eficiente. Também pretendo dar continuidade aos projetos já iniciados pelas gestões anteriores. O Poder Judiciário não pode funcionar como uma administração pessoal, que começa do zero a cada troca de comando. Hoje temos um comitê de planejamento que envolve magistrados, servidores, sindicatos e setores administrativos. É nesse espaço que os projetos são discutidos e amadurecidos, e é fundamental respeitar essa estrutura. É claro que alguns ajustes serão feitos, isso é natural em qualquer gestão, mas sempre com foco em aprimorar e entregar mais. A ideia é caminhar adiante, com responsabilidade e visão institucional.
Como pretende conduzir a relação com os demais Poderes?
Com muito diálogo, sempre. Essa é uma característica que carrego comigo. Sou mediadora certificada pelo CNJ, conciliadora, coordenei os Juizados Especiais por mais de dez anos e idealizei a Justiça Comunitária. Minha trajetória no Judiciário sempre esteve muito ligada à construção de consensos e pontes. Acredito profundamente que o diálogo qualificado é capaz de resolver impasses e evitar conflitos desnecessários. A relação com os demais Poderes será pautada por respeito mútuo, cooperação institucional e clareza de papéis. Cada Poder tem sua função constitucional, mas todos compartilham responsabilidades diante da sociedade.
Que mensagem sua eleição envia para as mulheres do Direito e do serviço público?
A mensagem é clara: é possível. É possível chegar onde você deseja, mesmo diante dos obstáculos. A educação transforma. A determinação abre caminhos. Haverá momentos difíceis, especialmente para conciliar maternidade e carreira, mas é nesses momentos que o foco faz diferença. Meu conselho é: não desistam. Aproveitem o tempo de vocês com sabedoria, busquem capacitação e mantenham o olhar firme no objetivo.
Expectativas para o próximo biênio
Há planos para aproximar ainda mais a Justiça da população mais vulnerável?
Sim. Esse é um compromisso pessoal. Fui uma das idealizadoras da Justiça Comunitária, criada em 2004, e acredito muito nesse modelo. Levamos toda a estrutura do Judiciário aos municípios, magistrados, mediadores, conciliadores, Ministério Público, Defensoria, advocacia e realizamos audiências diretamente com a população, geralmente aos sábados. É um trabalho intenso, mas muito gratificante, porque aproxima a Justiça de quem mais precisa. Muitas vezes, dentro dos gabinetes, não conseguimos perceber de forma clara a realidade de quem está buscando um direito ou enfrentando um processo. Estar presente, ouvir, sentir as dificuldades de acesso à informação e à Justiça é fundamental para que possamos oferecer respostas mais humanas e eficazes.
Como avalia o uso da inteligência artificial no Judiciário?
A inteligência artificial é uma ferramenta indispensável para os tempos atuais. Não há volta. Ela agiliza rotinas, auxilia na tramitação processual e permite que magistrados e servidores concentrem esforços em tarefas mais complexas. Mas é preciso ter clareza de que quem comanda a tecnologia é o ser humano. Cada processo envolve vidas, famílias, empresas. Por isso, o olhar humano jamais pode ser substituído. A inteligência artificial deve servir como apoio, não como substituto. É um instrumento poderoso, desde que usado com responsabilidade e critério.
Por Charles Manga
No fundo, a gente sempre alimenta essa esperança, porque é o reconhecimento dos colegas. Mas, quando o resultado saiu, confesso que fiquei emocionada. Foi uma bela surpresa. A unanimidade carrega um simbolismo muito forte. Representa confiança, respeito e também aumenta muito a responsabilidade. Eu recebo essa unanimidade com humildade e consciência do tamanho do desafio. Tenho clareza de que cada voto ali é também um compromisso com o diálogo, com a transparência e com uma gestão participativa. Isso me motiva ainda mais a entregar o melhor.
Não. Tivemos um processo muito respeitoso e transparente. É natural que, em uma eleição, haja mais de um nome interessado, mas conseguimos conduzir tudo com muito diálogo e cuidado para evitar ruídos. Somos apenas 30 desembargadores, e manter boas relações é essencial. Eu sempre prezei por isso. Conversamos com todos, apresentamos as ideias e construímos pontes. Essa harmonia foi fundamental para o resultado final.
Quais são as prioridades da sua gestão?
Minha primeira grande meta é avançar na agilidade dos julgamentos. Isso é essencial para garantir uma Justiça mais célere e eficiente. Também pretendo dar continuidade aos projetos já iniciados pelas gestões anteriores. O Poder Judiciário não pode funcionar como uma administração pessoal, que começa do zero a cada troca de comando. Hoje temos um comitê de planejamento que envolve magistrados, servidores, sindicatos e setores administrativos. É nesse espaço que os projetos são discutidos e amadurecidos, e é fundamental respeitar essa estrutura. É claro que alguns ajustes serão feitos, isso é natural em qualquer gestão, mas sempre com foco em aprimorar e entregar mais. A ideia é caminhar adiante, com responsabilidade e visão institucional.
Como pretende conduzir a relação com os demais Poderes?
Com muito diálogo, sempre. Essa é uma característica que carrego comigo. Sou mediadora certificada pelo CNJ, conciliadora, coordenei os Juizados Especiais por mais de dez anos e idealizei a Justiça Comunitária. Minha trajetória no Judiciário sempre esteve muito ligada à construção de consensos e pontes. Acredito profundamente que o diálogo qualificado é capaz de resolver impasses e evitar conflitos desnecessários. A relação com os demais Poderes será pautada por respeito mútuo, cooperação institucional e clareza de papéis. Cada Poder tem sua função constitucional, mas todos compartilham responsabilidades diante da sociedade.
Que mensagem sua eleição envia para as mulheres do Direito e do serviço público?
A mensagem é clara: é possível. É possível chegar onde você deseja, mesmo diante dos obstáculos. A educação transforma. A determinação abre caminhos. Haverá momentos difíceis, especialmente para conciliar maternidade e carreira, mas é nesses momentos que o foco faz diferença. Meu conselho é: não desistam. Aproveitem o tempo de vocês com sabedoria, busquem capacitação e mantenham o olhar firme no objetivo.
Expectativas para o próximo biênio
Há planos para aproximar ainda mais a Justiça da população mais vulnerável?
Sim. Esse é um compromisso pessoal. Fui uma das idealizadoras da Justiça Comunitária, criada em 2004, e acredito muito nesse modelo. Levamos toda a estrutura do Judiciário aos municípios, magistrados, mediadores, conciliadores, Ministério Público, Defensoria, advocacia e realizamos audiências diretamente com a população, geralmente aos sábados. É um trabalho intenso, mas muito gratificante, porque aproxima a Justiça de quem mais precisa. Muitas vezes, dentro dos gabinetes, não conseguimos perceber de forma clara a realidade de quem está buscando um direito ou enfrentando um processo. Estar presente, ouvir, sentir as dificuldades de acesso à informação e à Justiça é fundamental para que possamos oferecer respostas mais humanas e eficazes.
Como avalia o uso da inteligência artificial no Judiciário?
A inteligência artificial é uma ferramenta indispensável para os tempos atuais. Não há volta. Ela agiliza rotinas, auxilia na tramitação processual e permite que magistrados e servidores concentrem esforços em tarefas mais complexas. Mas é preciso ter clareza de que quem comanda a tecnologia é o ser humano. Cada processo envolve vidas, famílias, empresas. Por isso, o olhar humano jamais pode ser substituído. A inteligência artificial deve servir como apoio, não como substituto. É um instrumento poderoso, desde que usado com responsabilidade e critério.
Por Charles Manga
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