Fé e política: show gospel em Guarapari expõe projeto de poder no Espírito Santo
Postado 24/09/2025 00H43

Evento que encerrou os 134 anos de Guarapari revela articulação entre lideranças religiosas e políticas ligada ao governador Renato Casagrande e ao seu grupo, de olho nas eleições de 2026.
Por Charles Manga
Guarapari (ES) – O show gospel da cantora Bruna Olly, que encerrou as comemorações pelos 134 anos de emancipação política de Guarapari, ultrapassou os limites da festa popular. O evento trouxe à tona uma articulação cada vez mais visível no Espírito Santo: o uso da fé e de lideranças religiosas como parte de um projeto político que mira diretamente as eleições de 2026. Bruna Olly é filha do pastor e ex-vereador Paulo Cezar Olly, figura com longa atuação política e proximidade com prefeitos estratégicos, como Euclério Sampaio, de Cariacica, e Rodrigo Borges, de Guarapari, este último aliado do governador Renato Casagrande. A presença da cantora em um evento financiado com recursos públicos reforçou as críticas de que a máquina estatal vem sendo utilizada para consolidar alianças eleitorais sob o pretexto de promover cultura e religiosidade.
Para analistas e críticos, os únicos realmente interessados nessa aproximação entre fé e política são o governador Renato Casagrande e seu grupo. O projeto seria claro: usar o peso da máquina pública para viabilizar a eleição de seu sucessor, o senador Ricardo Ferraço. O acordo também abriria espaço para que o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, dispute uma vaga ao Senado em 2026. Embora se apresente como político de direita, Euclério é apontado como parte da engrenagem de Casagrande, alinhado aos interesses do atual governo.
Nesse contexto, pastores como Paulo Cezar Olly são criticados por atuarem mais como agentes políticos do que como líderes religiosos. Ao afirmar que igrejas apoiam prefeitos de esquerda ou candidatos conservadores ligados a esse grupo, ele e outros pastores buscam dar legitimidade a uma articulação que, na prática, beneficia apenas um pequeno círculo de lideranças. Muitas igrejas capixabas – incluindo comunidades ligadas às Assembleias de Deus – contestam esse discurso e ressaltam que não existe posição oficial de apoio a candidatos.
Assim, o que se vende como unidade da fé cristã em torno de determinados nomes políticos não passa, segundo críticos, de um arranjo de conveniência. O resultado é o enfraquecimento da credibilidade das igrejas e a confusão do eleitorado, que vê a religião transformada em instrumento de poder. O aniversário de Guarapari terminou em clima festivo para a população, mas expôs um cenário preocupante: a religião está sendo usada como moeda eleitoral em um projeto político maior, cujo objetivo é garantir a continuidade de um grupo no comando do Espírito Santo.
Categoria: