A mesma aliança, o mesmo regime, a mesma miséria: Por que China, Rússia e Irã não salvaram a Venezuela? Não salvarão o Brasil

Por Charles Manga

O Brasil de 2025 tem cheiro de déjà vu e não é mera coincidência. A cada semana, o país parece dar um passo a mais rumo ao que se tornou a Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro: um sistema autoritário disfarçado de democracia, onde a perseguição à oposição, o controle da imprensa e a destruição da iniciativa privada não são falhas, mas pilares de um projeto de poder. Os sinais estão todos aí. E ignorá-los é permitir que, quando nos dermos conta, não haja mais retorno possível.
Justiça como instrumento político

Na Venezuela, Nicolás Maduro ergueu uma ditadura com vestes institucionais. O Judiciário foi submetido à vontade do Executivo, juízes foram escolhidos a dedo e opositores passaram a ser rotulados como “terroristas” e “inimigos da pátria”. O resultado dessa engenharia autoritária? Mais de 1.600 presos políticos, segundo organizações internacionais, muitos sem julgamento, outros condenados por “conspiração”. No Brasil, os presos do 8 de janeiro, a grande maioria sem histórico de violência ou envolvimento direto com depredações, têm sido condenados a penas que beiram duas décadas de prisão, mesmo diante da ausência de provas materiais e da falta de individualização dos atos. A lógica da condenação coletiva, repudiada por qualquer democracia, foi incorporada com naturalidade por tribunais superiores, enquanto advogados de defesa gritam no deserto.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi transformado em inimigo público número um: impedido de usar redes sociais, proibido de dialogar com diplomatas, obrigado a portar tornozeleira eletrônica, submetido a toque de recolher noturno e declarado inelegível. Acusações frágeis sobre uma suposta tentativa de golpe vêm servindo como pretexto para operações espetaculosas da Polícia Federal, hoje percebida por muitos como uma tropa de elite ideológica, a “polícia bolivariana” brasileira, agindo sob ordens diretas do poder central. Um papel assustadoramente semelhante ao exercido pelas forças de segurança venezuelanas nas eleições em que opositores como Henrique Capriles e María Corina Machado foram perseguidos, silenciados ou impedidos de concorrer. No Brasil, assim como na Venezuela, não é o voto que derrota o adversário, mas o processo judicial. A toga virou arma de guerra. E a democracia, mero figurino de um regime que já não disfarça sua vocação autoritária. Imprensa cúmplice, não livre

Na Venezuela, a imprensa foi amordaçada aos poucos. Censura direta, bloqueios de sites e a transformação dos principais canais em aparelhos de propaganda chavista se tornaram rotina. No Brasil, grandes veículos de comunicação silenciam sobre os abusos de poder quando vêm da esquerda. Perseguições são chamadas de “decisões judiciais”. Inquéritos sem base viram “combate à desinformação”. Jornalistas independentes são desmonetizados, processados ou difamados e poucos ousam reagir. A linha editorial já não reflete pluralidade, mas obediência ideológica. A imprensa brasileira, com raras exceções, já não serve mais ao jornalismo, serve ao regime.

A destruição da economia produtiva

A Venezuela era uma das economias mais prósperas da América Latina. Até que veio o intervencionismo. Nacionalizações, tabelamento de preços, expropriações e ataques sistemáticos ao setor privado. Resultado: escassez, inflação galopante e fome.
No Brasil, Lula faz pressão pública sobre estatais, interfere na política de preços da Petrobras, tenta reestatizar a Eletrobras e já ensaia a volta dos subsídios generalizados, tudo embalado com o discurso do “Estado indutor”. O mercado reage com desconfiança. Investidores recuam. A confiança empresarial evapora. A diferença entre o Brasil e a Venezuela, por ora, nesta, é apenas tempo.

Alianças com regimes autoritários

Na crise venezuelana, China, Rússia e Irã foram os principais aliados do chavismo, sustentando politicamente e economicamente um regime já em colapso moral. Assim como vemos agora no Brasil, foram essas alianças que garantiram a sobrevivência do autoritarismo, não a liberdade do povo. E o que esses parceiros estratégicos entregaram à Venezuela? Miséria, repressão e exploração. Nenhum deles ofereceu democracia, prosperidade ou dignidade, apenas apoio a um sistema que enriquece a cúpula enquanto esfola a base.

O Brasil segue pela mesma trilha. Lula reatou laços com Maduro, minimizou fraudes na eleição venezuelana, evitou críticas a Ortega na Nicarágua e passou a investir pesado em relações com países dos BRICS, muitos deles, notoriamente autoritários. Ambos transformaram a Casa Branca em inimigo externo, escolhendo os EUA como alvo preferencial para alimentar a narrativa do “nós contra eles”, um expediente típico das revoluções autoritárias que operam sob os pilares do marxismo cultural. A lógica é simples: criar um inimigo imaginário para justificar abusos internos, enquanto se desvia o foco das crises institucionais e econômicas. Mais uma vez, a ideologia se impõe à liberdade e a razão cede lugar ao dogma.

“Ah, mas o Brasil não precisa dos ianques”, dizem os esquerdistas locais. Na Venezuela, afirmam eles, ‘‘a tragédia é culpa dos embargos americanos”, jamais do governo ‘protetor’. Lá, os defensores da opressão ainda sustentam a narrativa de que são vítimas externas, não algozes internos.
Agora, o Brasil segue caminho parecido. Está sendo isolado comercialmente por suas alianças ideológicas, da mesma forma que a Venezuela foi. E a pergunta inevitável é: se China, Rússia e Irã não garantiram estabilidade econômica ao povo venezuelano, por que fariam diferente com os brasileiros?
O ponto de não retorno

As eleições ainda ocorrem, o Congresso segue de pé, e a imprensa continua em circulação. Mas tudo isso também existe na Venezuela. Lá, a ditadura não chegou com tanques nas ruas, e sim com toga, caneta e conchavos. Foi a justiça corrompida que abriu caminho para o autoritarismo, protegida por uma imprensa dócil e executada por uma polícia transformada em braço operacional do regime, encarregada de vasculhar, intimidar e destruir a vida da oposição. No Brasil, os pilares democráticos ainda resistem, mas estão sendo corroídos, um a um, diante de nossos olhos. Quando todos acordarem, será tarde. Os alertas estão na mesa: censura seletiva, politização da Justiça, aparelhamento das instituições, imposição ideológica nas escolas, nos tribunais, nas empresas e na cultura. O modelo venezuelano já não é um risco, é um roteiro sendo seguido.

E quando os brasileiros finalmente se derem conta de que vivem sob uma versão “abrasileirada” da revolução bolivariana, o regime já estará consolidado. Nesse ponto, não haverá retorno fácil. A reconquista da liberdade exigirá algo muito mais profundo e doloroso: a demolição completa do sistema que permitiu sua ascensão, um processo que arrastará a nação para anos de desgraça moral, ruína social e devastação espiritual.
Porque o projeto não é somente político, é existencial. O regime quer você pobre, dependente, emasculado, desprovido de fé, força e discernimento. Quer que você confunda grades com proteção e servidão com segurança. Nenhum governo que precise usar a força da Justiça para conter seu próprio povo é legítimo. Não representa as massas, teme as massas. E por isso, reprime.

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