Casagrande e Ferraço recebem PP e União Brasil no Palácio: apoio garantido com exigência de espaço

Por Charles Manga - Texto : Alan Fardin Fonte: Opinião ES

Se fosse só mais uma visita protocolar, a passagem de Josias da Vitória e Marcelo Santos pelo Palácio Anchieta teria sido só mais um café entre políticos. Mas quem conhece os bastidores da política capixaba entendeu na hora: aquela conversa com Renato Casagrande e Ricardo Ferraço tinha gosto de acordo firmado — e com cláusulas não ditas, mas perfeitamente entendidas. Ali, cada sorriso era uma senha, cada aperto de mão vinha com entrelinhas. Ninguém estava ali só pela amizade. O que se jogava na mesa era uma pergunta clara: “tô junto, mas qual vai ser minha fatia no bolo?”

O apoio da futura federação União Progressista — que vai unir PP e União Brasil — ao projeto do Palácio já era esperado. Nada que surpreendesse. Dentro desse clima de convergência, Marcelo Santos foi direto: o nome de Ricardo Ferraço é o preferido, sim — mas Da Vitória está pronto para o que for necessário. Não foi apenas um gesto de lealdade, mas um recado claro: a federação quer protagonismo. Quer estar na linha de frente. Não se trata da disputa pelo cargo de governador, e sim por espaços como a vice ou o Senado — além de participação na montagem das chapas federal e estadual. MDB e PSB, com Ricardo e Casagrande, têm suas vagas garantidas. O momento é de definição do espaço que caberá ao PP e ao União Brasil na composição da chapa majoritária.

A entrada de Da Vitória nesse xadrez foi bem pensada. Seu nome, agora mais ventilado para o Senado — ou, em um cenário improvável, como substituto de Ferraço ao governo — não aparece por acaso. É demarcação de território. Uma forma de dizer: “nós carregamos estrutura, base e voto — e queremos a devida compensação por isso”. E a federação não é pouca coisa: em breve, será a maior do país em número de parlamentares. Não quer só aplaudir. Quer decidir.

E aí, o que mais chamou atenção foi justamente o que não foi dito. Nenhuma menção a Evair de Melo, deputado federal do PP, com base eleitoral robusta e pré-candidato ao Senado — ainda que não tenha declarado formalmente, é essa a posição que busca consolidar.

O silêncio soou como recado: Evair está fora do plano. Fora do jogo. A figura conservadora, crítica de Casagrande, não se encaixa na engrenagem que está sendo montada no Palácio. Pode até lançar candidatura, mas sem respaldo institucional e, o principal, sem clima político. O cenário que se desenha para ele é o da reeleição à Câmara. E, se for assim, considerando suas ambições, talvez o PP já não seja mais seu espaço — e a busca por uma nova sigla seja apenas uma questão de tempo.

O tabuleiro ganha outra camada com a chegada do Podemos, comandado por Gilson Daniel. Em abril, o partido reuniu prefeitos, vices e lideranças em Viana para declarar apoio a Ferraço. Mas, como os demais, não entrou de mãos abanando. Quer o mesmo que os presidentes da federação querem: um lugar na chapa majoritária. Se for vice, ótimo. Se for uma vaga ao Senado, também serve. Mas quer estar dentro. E vai brigar por isso.

É nesse clima que a montagem da chapa vai tomando forma. MDB, PSB, PP, União Brasil e o Podemos — uma frente ampla que mistura centro, direita e esquerda, num desenho que passa por cima de rótulos ideológicos e se ancora em uma palavra só: governar. O projeto segue método, estratégia e vem sendo construído com calma.

O núcleo do governo está fazendo o dever de casa com antecedência — e muita. Não tem improviso, tem engenharia. Conversas em paralelo, silêncios combinados, apoios costurados. Tudo para garantir que 2026 seja mais uma etapa de continuidade, e não de ruptura.

E para quem ainda tem dúvida, os sinais estão todos aí:

– A federação quer reciprocidade — e não vai se contentar com palanque sem vaga.
– Da Vitória já é carta na mesa — não está ali só para figurar.
– Evair foi excluído do circuito — e vai ter que se reinventar.
– O Podemos entrou no jogo para valer — e está exigindo cadeira na mesa, não plateia.
E vamos seguir analisando. Que venham os próximos movimentos.

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