A camisa vermelha da Seleção é o uniforme da rendição ideológica: a CBF, mais uma vez, trai o povo e entrega o futebol à militância
Postado 29/04/2025 09H12

Por Alan Fardin - Opinião ES
A notícia da nova camisa vermelha da Seleção Brasileira para a Copa de 2026 não é apenas uma escolha estética ou uma jogada de marketing. É a pá de cal sobre o último fio de ligação verdadeira entre o povo brasileiro e seu maior patrimônio cultural: o futebol. Uma traição sem disfarces, que expõe a falência moral da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), hoje rendida a interesses políticos e desconectada de qualquer compromisso com suas próprias raízes.
O estatuto da própria CBF é claro: as cores da Seleção devem refletir a bandeira nacional — verde, amarelo, azul e branco. O vermelho sequer é citado. Mudanças seriam permitidas apenas em edições comemorativas específicas — algo que, definitivamente, não se aplica a uma Copa do Mundo. Mas no Brasil de hoje, regulamentos, identidades e tradições viraram obstáculos incômodos a serem simplesmente ignorados diante de interesses ideológicos.
Não foi acidente. A escolha do vermelho foi um ato calculado. Desde as manifestações de 2015, quando milhões vestiram a amarelinha em defesa da ética e contra a corrupção, o verde-amarelo passou a incomodar aqueles que veem o amor à pátria como ameaça. Era preciso ressignificar — ou melhor, sabotar — esse símbolo. Se o povo abraçou o amarelo espontaneamente, a resposta viria de cima: o vermelho, cor historicamente associada à esquerda, seria imposto goela abaixo.
A diferença está justamente aí: eles não criam, apenas invadem. Assim como tentam fazer com o futebol. Sob o falso manto da “inclusão”, distorcem tradições, reescrevem referências e transformam a Seleção — que sempre foi orgulho nacional — em vitrine de agendas ideológicas. Não há construção; apenas apropriação e desmonte.
Em vez de honrar a paixão de gerações, a CBF preferiu agradar uma bolha militante. Vestiram a mudança com palavras doces como “inovação”, “diversidade” e “antirracismo”, esvaziadas de sentido, para esconder o real projeto: a captura política de um sentimento que sempre foi maior do que qualquer partido ou ideologia.
E uma coisa precisa ficar muito clara: quem levou a política para dentro do gramado foi a própria CBF. Se a esquerda se incomoda com patriotas vestindo a camisa da Seleção, que usem a azul, a branca ou qualquer outra versão comemorativa. O que não dá é querer reescrever estatuto e tradição só porque não gostam de quem veste. Eles não colocaram só uma nova cor — colocaram uma bandeira. E agora o futebol virou mais um palanque da militância woke.
Enquanto isso, a verdadeira tradição foi esquecida. A camisa azul que Pelé e Garrincha imortalizaram em 1958 foi deixada de lado. Enterraram não só uma cor, mas também a memória afetiva de um povo que, por décadas, viu na Seleção a expressão mais pura da alegria de ser brasileiro. Lembrar de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 é lembrar de mais do que títulos. É recordar lágrimas de orgulho, ruas pintadas, bandeiras tremulando nas janelas, famílias reunidas ao redor de rádios e televisores, unidas em um só coração. Estão tentando reescrever essa história — como se fosse possível apagar a alma de um país.
Não é de hoje que a CBF vem afastando a Seleção do seu verdadeiro dono: o povo brasileiro. Antes mesmo da camisa vermelha, já haviam leiloado nossos jogos para estádios distantes como o Emirates Stadium, em Londres, o Estádio Nacional de Singapura, além de partidas em Doha e Riad. O torcedor brasileiro — que sempre foi parte viva das arquibancadas — foi sendo deixado para trás. Eu ainda me lembro, assistindo pela TV, do carinho com que o povo nordestino recebia a Seleção, transformando cada chegada em festa, cada jogo em um carnaval espontâneo de amor e alegria verdadeira.
E quando, após anos jogando fora, a Seleção voltava finalmente a pisar em solo brasileiro, aquilo que deveria ser um reencontro emocionante com a sua torcida se transformava em frustração. O golpe era ainda mais cruel: os ingressos custavam tanto que só uma minoria privilegiada podia assistir — e não era o povo das ruas, das bandeiras nas sacadas, das camisas suadas de emoção. Afastaram-nos primeiro pela distância. Depois, pelo preço. E agora querem pintar de outra cor aquilo que sempre carregou nossa identidade. Tudo isso, primeiro por dinheiro — e muito. Agora, também por ideologia, buscando apoio de uma militância que não ama o futebol, mas enxerga na nova camisa a cor do partido — e não a da nossa história.
E essa conivência da CBF com interesses políticos e empresariais não para por aí. Até quem dizia ser diferente mostrou que é mais do mesmo. Sou flamenguista, mas vou ser sincero: já tive admiração pela Tia Leila, presidente do Palmeiras. Sempre falou como quem era diferente, com aquele discurso de ética, coragem, enfrentando tudo e todos. Por um tempo, acreditei. Mas no fim das contas, foi só mais uma decepção. Quando teve a chance de mostrar que era mesmo diferente, fez igualzinho aos outros: baixou a cabeça pra Ednaldo e se aliou à máfia da CBF. No fim, era só autopromoção mesmo.
Dentro de campo, a decadência reflete o que acontece fora dele. A Seleção amarga uma quarta posição nas Eliminatórias para 2026, flertando perigosamente com o risco de não se classificar. Jogadores convocados não pela excelência, mas pela influência de empresários e agentes. Em 2023, um único empresário colocou sete atletas — muitos nem titulares em seus clubes — na lista de convocados. O talento deu lugar à negociata. A paixão, ao contrato.
O futebol brasileiro virou um feirão de atletas, e a Seleção virou balcão de negócios. Tanto que técnicos renomados como Carlo Ancelotti e Jorge Jesus, ao negociar com a CBF, exigiram garantias de autonomia para não serem reféns desses interesses escusos. Porque hoje, treinar a Seleção não é ambição — é caridade.
O futebol brasileiro não precisa de camisas vermelhas. Precisa de vergonha na cara. Precisa de dirigentes que saibam que a Seleção é muito mais que uma camisa ou um negócio: é a alma viva de um povo.
Opinião ES
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