No PL capixaba, a Bíblia é citada, mas quem dita o gênesis é Magno
Postado 29/04/2025 08H58

- Por Alan Fardin - Opinião
- Gênesis narra a criação do mundo, a origem da humanidade e a história espiritual de Israel, revelando o propósito divino desde o início
Se depender de Magno Malta, a direita no Espírito Santo já tem dono — e sobrenome. No dia 25, em duas entrevistas marcantes ao jornalista Vitor Vogas, do ES360, o senador não deixou margem para dúvidas: quem não vier dele, por ele e para ele, não será reconhecido como parte da verdadeira direita.
Mais do que palavras, Magno já desenhou o tabuleiro: distribuiu posições e entregou à filha, Magda Malta, a braçadeira de capitã do time do PL.
Pode parecer exagero, mas basta ligar os pontos. Magno ensaia sua candidatura ao governo do Estado em 2026 — não porque queira, segundo ele, mas porque seria “um sacrifício necessário”. Um sacrifício para salvar a direita — ou melhor, para salvar a direita moldada à sua imagem e semelhança. É o tipo de sacrifício que soa bastante conveniente: se concorrer, será mártir; se não concorrer, será oráculo. Em ambos os cenários, o centro da história será — inevitavelmente — ele.
Ao mesmo tempo, trata a sucessão no Senado como assunto de família. Sua filha, Magda — a “Maguinha” — foi ungida como candidata oficial do PL. Não por vontade política comum, mas como uma missão celestial, como fizeram questão de enfatizar tanto Magno quanto Maguinha: a sucessão virou um chamado divino. Maguinha não é apenas a aposta política do pai — foi apresentada como a escolhida dos céus, predestinada a carregar a tocha da “verdadeira direita” moldada no altar familiar.
Até aqui, nenhuma surpresa. A política sempre foi um palco de narrativas — e, de tempos em tempos, de delírios encenados com devoção.
O problema está nas entrelinhas: Magno não quer apenas disputar uma eleição — quer cercar a direita capixaba num curral que leve sua marca em cada canto, sem espaço para vozes autônomas ou projetos paralelos, como já fez anteriormente com o ex-candidato ao governo Carlos Manato, também do PL.
E não faltaram demonstrações práticas dessa lógica. Magno montou um elenco sob medida para o seu projeto pessoal, separando com habilidade os aliados “de confiança” daqueles que poderiam ameaçar sua hegemonia. Gilvan da Federal, inicialmente apontado como opção ao Senado, foi gentilmente rebaixado à luta pela reeleição como deputado federal. Recebeu elogios protocolares — um “grande nome”, “importante para o partido” — mas, na prática, perdeu espaço na hierarquia. O deputado estadual Wellington Callegari, exaltado como “um dos melhores quadros do PL”, também foi acomodado: seguirá na disputa proporcional, reforçando o exército de apoio, mas sem autonomia para sonhar com voos maiores.
Já Evair de Melo, deputado federal pelo PP, homem de confiança de Jair Bolsonaro, foi duplamente escanteado.
Primeiro, pela omissão: Magno sequer o citou como opção legítima ao Senado.
Depois, pela insinuação: sem mencionar nomes, sugeriu que Bolsonaro estaria apoiando também “um candidato de centro” — uma indireta mais do que clara a Evair.
Ao carimbar Evair como “centrista”, Magno o desqualifica perante a base conservadora, numa tentativa de desidratar seu nome e reafirmar que a “verdadeira direita” só passa pelas suas mãos.
A movimentação é ainda mais significativa porque o próprio Bolsonaro, em entrevistas recentes, já sinalizou interesse em apoiar Evair no Espírito Santo.
Mesmo assim, para Magno, se o candidato não for do PL — e, principalmente, se não for abençoado por ele —, não serve. Mas no PL, Magno não deixa Evair entrar. Que coisa, né?
Até Lorenzo Pazolini, prefeito de Vitória, e seu articulador de governo, Erick Musso, nomes fortes do Republicanos, foram colocados à prova. Para serem aceitos no círculo fechado de Magno, precisarão passar pelo que se poderia chamar de “Curso Intensivo Magno de Ortodoxia Direitista”. Do contrário, cairão na vala comum dos “centristas mornos” — indignos de bênção.
O Espírito Santo precisa de uma direita madura, com espaço para Evair, para Gilvan, para Callegari, para Manato, para Pazolini — e, sim, para Maguinha também — e para todos que defendam valores e ideias, e não apenas personalismos.
Sem heresia, mas com ironia
Se o Vaticano ainda não escolheu seu novo Papa, o PL, autodirigido por Magno, já tem o seu.
Às vezes, a figura parece se misturar e se manifestar como o próprio Deus.
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